O fantasma de 1950 está vivo, Uruguai vence Itália e segue enfrente na Copa 2014.

Por Paulo Edson Delazari
Godin comemora gol da classificação uruguaia. (Foto: Getty)

Godin comemora gol da classificação uruguaia. (Foto: Getty)

Depois de perder para a Costa Rica na estreia e ser considerado como o primeiro eliminado do grupo da morte, o Uruguai deu a volta por cima, bateu a Itália por 1 a 0 em uma verdadeira decisão nesta terça-feira, em Natal, e está classificado para as oitavas de final. Os italianos, tetracampeões do mundo, voltam muito mais cedo que o esperado para casa e reclamando da expulsão de Marchisio, logo aos 14 minutos do segundo tempo.

O brilho do zagueiro artilheiro apareceu novamente, como já fizera na Champions deste ano, Godin foi fundamental na vitória. Depois de dar o título espanhol ao Atlético de Madri e de marcar até na final da Champions League, Diego Godín apareceu mais uma vez, agora na Copa do Mundo. Aos 36 minutos do segundo tempo, o zagueirão subiu mais que todo mundo no meio da poderosa defesa italiana e mandou a bola para as redes. Era o gol da classificação, o gol que transformava em realidade o que antes era quase impossível.

E quase impossível nas palavras dos próprios uruguaios. Logo após a derrota para a Costa Rica na estreia, Diego Lugano foi categórico em dizer que a classificação para as oitavas de final ficara distante. “Antes era difícil, agora é quase impossível”, disse na ocasião.

Mas o Uruguai tinha Luis Suárez, que, mesmo sem estar 100% fisicamente entrou em campo, marcou dois gols e comandou praticamente sozinho a vitória diante da Inglaterra na segunda rodada. E o Uruguai tinha Godín, de temporada brilhante na zaga do Atlético de Madri e de estrela sem igual para garantir o triunfo também diante da Itália.

Marchisio deu solada em Maxi Pereira e foi expulso. (Foto: Getty)

Marchisio deu solada em Maxi Pereira e foi expulso. (Foto: Getty)

Com a vitória, o Uruguai termina a fase de grupos com 6 pontos, um a menos que a Costa Rica, líder da chave, após o empate em 0 a0 contra Inglaterra na tarde de hoje. Como segundo colocado, os uruguaios agora aguardam a definição do grupo C para conhecerem seus próximos rivais. O adversário tem grandes chances de ser a Colômbia, mas também pode ser a Costa do Marfim.

Mas a classificação também impede um novo Maracanazzo, como em 1950. Explica-se: com o Brasil em primeiro do grupo A e o Uruguai em segundo no grupo D, as seleções obrigatoriamente terão que se encontrar nas quartas de final, em Fortaleza. Isso, claro, se ambas passarem pelas oitavas.

O jogo

Como não podia ser diferente, o clima de decisão entrou em campo junto com os jogadores das duas equipes. Ninguém podia pensar em sair atrás no placar e, por isso, o duelo começou truncado e se estendeu deste jeito por todo o primeiro tempo. A Itália controlava sempre a posse de bola, mas, com Pirlo um pouco mais recuado, pouco conseguia criar.

Do outro lado, o Uruguai usava todas as vezes que pegava na bola para tentar criar uma jogada de perigo. Logo aos dois minutos de jogo, por exemplo, Cavani tentou um chute ainda de trás do círculo do meio de campo. A tentativa surpreendeu, mas Buffon foi seguro na bola e fez a defesa sem muitos problemas. Pouco depois, Suárez cobrou falta na área e obrigou Buffon a rebater para longe. Álvaro Gonzalez ainda pegou o rebote, mas não conseguiu fazer a finalização.

A melhor chance italiana na primeira etapa veio em uma quase falha de Muslera. Pirlo teve falta pela esquerda, ainda distante do gol e mais perto da linha lateral. O italiano, porém, não quis saber das adversidades e emendou para o gol. Muslera espalmou para cima e quase se complicou mandando a bola para dentro do próprio gol. Aos 28, Immobile ainda teve outra boa oportunidade, mas isolou um bom cruzamento que recebeu de De Siglio.

Godin comemora o gol da classificação da Celeste. (Foto: Getty)

Godin comemora o gol da classificação da Celeste. (Foto: Getty)

A melhor chance da primeira etapa, porém, seria mesmo uruguaia. Aos 32, Suárez tabelou com Lodeiro e invadiu sozinho a área italiana. O atacante tentou o cruzamento, mas Buffon se esticou todo e evitou o passe. A bola voltou nos pés de Lodeiro, que tentou emendar de primeira, mas Buffon mostrou mais uma vez porque é considerado um dos melhores goleiros do mundo há tanto tempo e fez a defesa no reflexo.

O segundo tempo começou com o Uruguai em cima. Logo aos 5 minutos, Cavani se enroscou com Bonucci na área e reclamou de um pênalti não marcado. Ao 14, porém, quem lamentava contra o juiz eram os italianos. Marchisio entrou com o pé muito alto em uma dividida com Maxi Pereira e tomou um cartão vermelho direto.

Com a Itália com um a menos, a partida mudou de rumo. O Uruguai se lançou com tudo ao ataque e quase marcou logo aos 20. Após a defesa mexicana travar Cavani, a bola sobrou para Suárez, que invadiu a área sozinho, ficou de frente para o gol e chutou com o lado de fora do pé. Mas não o suficiente para tirar Buffon do lance. O goleiro se esticou todo e mandou a bola para escanteio.

O jogo foi ficando mais nervoso com o passar dos minutos. Aos 35 minutos, Suarez se enroscou na área, e Chiellini foi ao chão reclamando de uma mordida do uruguaio, que parece de fato ter acontecido. Em contrapartida o italiano soltou a cotovelada no uruguaio dentro da área com a bola em jogo, o que seria um penalti. O juiz não marcou nada, e a sequência foi fatal para a Itália. Escanteio pela direita, bola quase perfeita de Gaston Ramírez e Godin subiu muito e de ombro foi certeiro. O gol da vitória, o gol da classificação.

Deste momento em diante marcação firme, pegada e controle de bola, a Itália abriu espaços e Suárez perdeu pelo menos duas grandes chances de ampliar.