O treinador pediu o apoio da torcia brasileira e afirmou a obrigação do título no Brasil.

Por Paulo Edson Delazari

Del Nero, Felipão. Parreira, Marin e Rubens Lopes durante apresentação do novo técnico da Seleção. (Foto: Getty)

Na sua volta à seleção brasileira após dez anos, Luiz Felipe Scolari demonstrou bom humor e discurso tranquilo em sua apresentação, nesta quinta-feira, no hotel Windsor Barra, no Rio de Janeiro. O treinador respondeu a questionamentos sobre problemas e polêmicas na CBF, rebateu críticas sobre o seu trabalho nos últimos anos, explicou a parceira que terá com o coordenador Carlos Alberto Parreira e falou sobre a pressão que sofrerá para conquistar o hexacampeonato mundial em 2014. Pelo menos à primeira vista, o clima de paz deu o tom na entrevista coletiva inicial, sem espírito ranzinza que invariavelmente acompanha Felipão.

A apresentação de Scolari durou 1 hora e 10 minutos, e ele esteve ao seu lado na mesa José Maria Marin, presidente da CBF, o coordenador Carlos Alberto Parreira, Marco Polo Del Nero, vice da CBF e presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), e Rubens Lopes, presidente da Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), além do assessor de imprensa Rodrigo Paiva.

Depois do discurso de abertura do presidente Marin, que justificou não ter escolhido Guardiola, Tite, Muricy Ramalho, Abel Braga e Vanderlei Luxemburgo e rasgou elogios a Luiz Felipe Scolari, o novo técnico da seleção teve a palavra e falou da satisfação de retornar à equipe nacional e da “obrigação” de ganhar a Copa em casa.

Na primeira pergunta mais polêmica de um jornalista, sobre um pedido de Marin de ver as listas de convocados 48 horas antes da divulgação, Felipão foi “light” e se saiu bem.

“Vamos fazer a escolha dos convocados 15, 17 dias antes dos jogos, porque precisamos mandar essa lista aos clubes. Por isso, é normal que o nosso presidente saiba não dois dias antes, mas até 15 dias antes”, disse o treinador.

Depois, a questão foi sobre como ele iria lidar com as polêmicas envolvendo a CBF, como a saída de Ricardo Teixeira no início deste ano e o depoimento prestado por Marco Polo Del Nero à Polícia Federal na última segunda.

“Quanto à CBF, não vai ter interferência nenhuma. A não ser que o presidente e o Marco (Polo) falem que querem esse ou aquele nome de jogador, e nunca houve esse tipo de interferência. Não posso falar de quem saiu, de quem fez isso ou aquilo, minha situação é só no futebol. Cheguei ontem (quarta-feira) a São Paulo e defini minha situação, não tenho nada a ver com o que acontece extra campo”, afirmou Scolari, sem qualquer exaltação em sua voz.

Outra curiosidade dos jornalistas era sobre como funcionará o trabalho conjunto entre Felipão e Parreira. Tanto o treinador como o coordenador mostraram afinidade nas explicações, garantindo que existirá sempre um diálogo entre os dois, mas deixando claro que a palavra final será de Scolari.

“Fiquei muito feliz quando o presidente me disse que convidou o Parreira. Eu disse ‘muito obrigado’ por poder ter o Parreira ao meu lado. O Parreira vai emitir opinião, vai sugerir nomes. Vou estar mais no campo, mas é assim que vamos trabalhar. Pelas equipes que nós formamos, muitas vezes temos algumas diferenças de posicionamento, de treinamento, mas vamos discutir e adaptar isso. Acho que os dois estilos vão se fundir”, explicou Felipão.

“Tudo é uma questão de adaptação, estamos aqui para colaborar, trocar ideias e até conceitos diferentes. Mas a decisão final sempre caberá ao treinador, que é a figura principal da comissão técnica”, concordou Parreira.

Sem respostas atravessadas, irritação ou qualquer outra situação mais desconfortável nesta terça, sobrou espaço até para brincadeiras em uma sala lotada com cerca de 100 profissionais de imprensa no Rio de Janeiro.

“Vejo que o Parreira está mais bonito, mais elegante, eu que não consegui fazer plástica ainda”; “o pessoal diz que não, mas eu era bom quando jogava, há discordâncias, mas eu era bom”; “a cara do Felipão? É essa, mais ou menos. Se você me perguntar para minha esposa, ela vai dizer que é razoável, outros vão dizer que é feia”. O bom humor de Felipão arrancou risadas dos presentes.

Questionado sobre o comportamento da torcida e do favoritismo das outras equipes Felipão foi enfático:

” Esperamos que a torcida jogue do nosso lado, entendemos a pressão, a Copa é na nossa casa, não somos favoritos, mas vamos tentar reverter isto e nos tornar favoritos, o hexa é obrigação, não entraremos para ser segundo, terceiro ou quarto, queremos o título.”

Aos 64 anos, Luiz Felipe Scolari é ainda mais maduro e experiente do que era quando foi pentacampeão mundial em 2002, na Copa da Coreia do Sul de do Japão. À primeira vista, Felipão demonstrou uma postura mais calma, resta saber se teremos uma nova família Scolari e uma nova conquista mundial.