Passamos a vida toda reclamando que não temos nada, e quando temos? Continuamos reclamando! 

Por Vladimir da Costa

Vai começa o maior evento da terra. Tudo já foi dito, confiscado, quebrado, superfaturado, mas sempre tem alguém querendo palpitar, seja contra ou a favor. É o tal direito da liberdade de expressão que dá essa chance para que todos possam se expressar.

A uns dez anos atrás, já tinha mais de 20 anos e não tinha celular, computador, dinheiro, talvez um pouco de esperança. Hoje, tenho os dois primeiros e os dois últimos insistem e escapar dos meus dedos ou sonhos. Mas nem nos mais temeroso sonho imaginei viver uma copa do Mundo aqui. Assistir pela televisão todos veem, mas ver “nascer” um estádio que será visto por alguns bilhões de pessoas, em uma área que é motivo de chacota bairrista, sempre foi impensável. Parece que ainda não é real. Não é apenas futebol, longe disso. Ninguém viaja o mundo todo por causa de 90 minutos. É muito maior que só gritar gol. É cultural, único, prazeroso e o mais importante, é divertido toda essa interação.

brasilApesar disso, temos dentro de nós, algo que foi inserido no momento do coito, que morremos com ele. O prazer de sempre ver o lado negativo em tudo. Tem o “mas eu falei” “isso vai dar merda”, o famoso em estádios “eu já sabia” e o moderno e pragmático, #sqn.

Triste que todos nós soframos de uma espécie de bulling coletivo. Não conseguimos ser criticados e dizer; obrigado, você tem razão. Não assumimos o preconceito existente dentro de nossa hipocrisia e raramente sorrimos sem motivo. Insistimos em criticar, ao invés de servir. Não devemos virar as costas e achar que está tudo lindo, não está. Mas está mesmo essa droga? Muito mais de que achar que está tudo errado, é nosso subconsciente fazer isso por nós e tomar partido. O legado que deve ficar é que os erros sirvam de lição para qualquer planejamento futuro. Duas coisas podem mudar de imediato. A burocracia chata e cansativa e interesse pessoal por algo que é ou deveria ser público.

Internamente, éramos considerados o país do futuro, que nunca chegou, mas descobrimos agora, que somos péssimos em planejamento. O que na escola era legal, deixar tudo pra última hora e dava certo, levamos para a copa. E mesmo assim sorrimos e achamos graça. É triste, mas é algo cultural, os engenheiros, arquitetos, pedreiros, tiveram a mesma infância: Deixa pra amanhã.

Existem, dentre de vários outros, um tripé pouco aproveitado, que cairia bem neste momento.  São Eles: Empatia, bom senso e respeito.

Empatia: Se não sabe pra que serve ou o real significado, não cabe a mim explicar. Não gosta, não faz, mas se o outro gosta e você não, seu direito de questionar ou julgar, não fazem o menor sentido. A copa está ai, talvez não seja 210 milhões de torcedores, a conta é menor, mas precisa aborrecer o próximo? Viver em sociedade requer regras de convívio e uma delas é ceder, mesmo que doa. Pode não ser uma boa causa para você, mas não precisamos dizer a uma criança, na flor da imaginação que Papai Noel e coelho da Páscoa não existem.

Bom senso: Ah, meu amigo bom senso.  Sempre insiste em beber antes de dirigir. Adora contar vantagem. Consegue acabar namoro na véspera do dia dos namorados e acredita ter sido a melhor opção. Seria tão mais fácil e menos trabalhoso, observar, entender por um instante e depois agir.  A inconveniência da pessoa sem senso  é aquela que passa perto do estádio onde acontece o jogo entre São Paulo e Corinthians, com a camisa do Palmeiras.

Respeito: Nosso amigo, tão amado, sempre lembrado, mas que parece que anda esquecido. Pra mim, gritar não é falta de respeito. Meu tom de voz é alto. Mas a da outra pessoa não é, e pra ela, gritar é sim falta de respeito, então, o que serve pra mim, deveria ser obvio que nem sempre serve pra você. Respeito é distribuído gratuitamente, para pobres, ricos, analfabetos, PHDs, foi criado para todos, porém, ele não é encontrado facilmente.

Tudo isso acontece, pro bem ou pro mal, devido a uma coisa que sempre existiu, mas com o passar do tempo, perdeu força, ou sua essência. o excesso de liberdade.

Hoje, todos têm o direito de criticar, elogiar, quebrar, construir, dizer o que pensa e o que não pensa, será? Temos mesmo todo esse direito? É triste saber que esse “tesouro” inestimável que é a liberdade esteja disponível para todo mundo. Antes, para ter esse direito, seja de opinião, de ir e vir, era pra poucos. Agora não, todo mundo pode tudo, a maioria sem o mínimo de embasamento. Falam por falar, porque, é a sua opinião e deve e merece ser respeitada. Não deveria ser assim.

Fulano leu uma nota de rodapé, não sabe quem escreveu, não procurou saber e tampouco se importou com a desgraça alheia e já sente na obrigação de divulgar nas redes sociais. A preguiça de interpretar e a ansiedade em publicar, curtir, tuitar, não deixam a pessoa pensar e por conta disso, estamos assim, meio perdidos diante de tantas pessoas que podem dizer o que bem entenderem. Apesar de não ser muito a favor deste modelo de democracia, onde 10 pessoas que estão se lixando, ganhem sobre 2 bem intencionadas, um pouco de esforço e conhecimento para saber do que se trata antes de eu ter que respeitar uma visão equivocada e ser taxado por discordar, não vai matar ninguém.

A merda da lei de Gerson nunca irá nos abandonar, acredito eu. Aliás, tenho certeza. basta ver o comércio de venda de ingressos a preços astronômicos. O flanelinha cobrando o dobro do ingresso pra deixar seu carro na rua. O cara que passa o farol vermelho, a tia do cachorro quente que cobra em libra porque você não sabe falar português. O taxista que sempre tem uma alternativa, o empresário que liberá você uma hora antes da partida pra que possa ver dentro do ônibus lotado. Enfim, todos, por mais de uma vez, pensamos maleficamente em tirar vantagem de uma situação, afinal, fila e devolver o celular que achou na rua, sozinho sem dono é para otários.

Não precisamos esquecer dos problemas. Só estou dizendo que criamos mais problemas e justificativas do que precisamos. Fantasiamos demais a falacia dos ignorantes que sempre tem algo a dizer deitados em vosso sofá e que não pode ser superior a atitude de poucos que colocam a mão na massa.

Hoje, e nas próximas 4 semanas, finalmente podemos estar entre amigos, familiares, sem um time especifico e poder comemorar o mesmo gol que seu amigo são-paulino, abraçá-lo, concordar com o juiz como irá fazer o palmeirense e ligar e compartilhar fotos de pessoas que você excluiria em outras competições, é algo que só acontece a cada 4 anos. Desta vez, acontecerá na sua casa e não podemos fingir que essa alegria é bem maior que todas as mazelas que acontecem em torno do mundial, talvez porque, priorizamos primeiro as coisas ruins.

Na dúvida, a melhor opção é evitar a fadiga, juntar os amigos e se divertir porque não tem mais volta, e se vai ter copa é porque muito foi feito e o que faltou, irá para o facebook e seus derivados e posteriormente será investigado pelo MP. O fato é que,  vai ter copa, sim. Nossa geração, seja qual for a idade, nunca mais verá isso, um pouco de compaixão pelo esforço empregado não seria tão ruim. Não que eu não vá protestar, mas o foco é outro, a copa é presente e devemos focar o futuro, um próximo é bem-vindo e vai mudar muito mais sua vida que assistir jogos em HD. As eleições, seus estudos, sua pós, sua promoção. Foque nisso e divirta-se hoje.

Qual é a sua geração?

Obrigado.