O que o Brasil aprendeu e ensinou ao Mundo nesta Copa das Confederações?Por Maurício Bonato

Na verdade, eu nem ia escrever sobre o jogo de domingo, Copa das Confederações, manifestações, Brasil em crise e tudo mais, mas acredito que preciso fazer isso, talvez por desencargo de minha própria consciência, pois bem.

O país “acordou” com a onda de manifestações, na minha opinião, as graúdas aconteceram de forma tardia, muitas pessoas já haviam se manifestado contra a Copa e a Olimpíada no Brasil, isso quando o país foi escolhido para sediar esses mega-eventos, mas manifestações que não foram observadas e atentadas pela população, que na plenitude econômica do país, via nos eventos uma fonte maior de ganhos financeiros, respeitosos e que o Brasil poderia ser diferente na organização desses grandes acontecimentos mundiais.

Só que a estabilidade financeira diminuiu, o povão caiu na real (parte dele, porque a maioria não sabe nem o que acontece no país, tenham certeza disso), mas de certa forma, o “olhar do mundo” para o Brasil, trouxe essa necessidade de exposição dos problemas, de forma generalizada é verdade, meio sem foco, mas a coisa aconteceu, a lamentar os oportunistas de sempre, verdadeiros marginais, esses sim, “queimam o filme” de qualquer manifestação por qualquer demanda que seja.

Hoje, um dia depois da final da Copa das Confederações, vejo que o país ainda não acordou, que o Brasil precisa de muito tempo para amadurecer sua democracia, mas vejo o que todo mundo de bem já sabia há tempos: após pressão popular, as coisas podem acontecer, os políticos têm medo do povo, só tinham a certeza de que o povo era burro, as manifestações mostraram que não somos tão burros quanto eles pensavam, mostrou que podemos ser mais combativos e que isso é exercer a cidadania e a democracia, temas e palavras absurdamente esvaziadas em anos e anos de velada opressão aos direitos populares.

Muita gente escreve na net (face, twitter e o escambau) coisas sobre “entrega de jogo de ontem”, “teoria da conspiração”; já falaram muito sobre isso na final de 1998 em Paris, no Saint Dennis (Stade de France) quando o Brasil levou uma “surra” da França comandada pelo maior jogador que eu vi jogar, Zinedine Zidane (nenhum outro em todos os tempos humilhou tanto o Brasil em campo), o que eu questiono desse papo todo, é que por quê as coisas tem que ser assim? Por quê ninguém acredita na lisura das competições? Posso estar sendo ingênuo, sei muito bem que interesses econômicos, políticos e até religiosos se sobrepõem aos interesses esportivos, principalmente no futebol, mas de verdade, se TUDO for armação, sinceramente, não sei o que estamos fazendo trabalhando com esportes, nos dedicando a vida inteira a estudos para que possamos transmitir aos jogos, para que possamos exercer a nossa profissão da melhor maneira possível, com honestidade e pudor.

Apesar que sempre temos um alvo para atirarmos nossas pedras, para criticarmos, e faço aqui a “mea culpa”, às vezes desrespeito jogadores limitados, tiro um sarro, criticar é fácil, mas ninguém pode me condenar e dizer que eu sou mal-intencionado, que faço as coisas de forma premeditada, procuro sempre, ter caráter e honestidade em tudo o que faço, mesmo quando erro, quando cometo excessos.

Sobre o jogo, acredito que o Brasil foi melhor em todos os critérios, talvez a Espanha sentiu o cansaço, a pressão, talvez o jogo da “fúria” não encaixe contra os 3 melhores sul-americanos (apesar de ter vencido o Uruguai por 2×1), mas a Espanha tem dificuldades contra Brasil (3×0 ontem) e Argentina (4×1 em Buenos Aires na primeira partida após o título mundial em 2010), coisa normal de uma seleção que reina em um continente em que todos os adversários mais do que a respeitam, a temem e a Itália está perdendo o medo, demonstrou isso na semifinal. Em 1998,a França “esmerilhou” contra o Brasil, foi uma aula de futebol, assim como aconteceu ontem, temos que lembrar de todas as vitórias da Espanha nesse ciclo, várias foram pela diferença mínima, várias foram para a prorrogação, pênaltis, em várias delas, Casillas foi o herói, é bem verdade que tantas outras foram de goleada, com show, mas nem sempre se pode ser perfeito e eu lembro de um detalhe que pouquíssimos analistas lembraram eu só ouvi um deles falar sobre o tema, foi o excelente Lédio Carmona do SPORTV, ele sempre enfatizou a falta que o Xabi Alonso (que pode deixar o Real Madrid) faz ao time, ao esquema montado pelo Vicente Del Bosque. Xabi Alonso dá segurança ao meio-campo, ele joga mais na seleção do que no Real Madrid, garante a total liberdade para o Xavi (que estava visivelmente cansado, talvez sobrecarregado pelo esquema).

Ontem, Del Bosque, pra mim, errou ao não entrar com David Silva, e Roberto Soldado ou David Villa no lugar de Fernando Torres, errou na armação do time, mas isso acontece e não sei se será repetido numa eventual final de Copa do Mundo daqui 1 ano no mesmo Maracanã. Sei que as coisas no futebol são muito obscuras, mas não vou crer em manipulação, perder e ganhar faz parte do jogo (ah, empatar também), mas a vida ensina, fato é que o Brasil achou um time através da habilidade de Luiz Felipe Scolari, assessorado por outro grande vencedor Carlos Alberto Parreira, que apesar de terem em muitos momentos, os dois, filosofias ultrapassadas, sabem bem, principalmente o Felipão, como fazer um time render seu máximo em uma competição de tiro-curto, o Brasil ganhou todos os jogos e só teve contra o Uruguai um dia ruim, um jogo fraco, mas mesmo assim, venceu, de uma maneira que faz o time se fortalecer em sua essência.

Mesmo com a derrota, a Espanha segue sendo a seleção a ser batida no ano que vem (ainda não se classificou pra Copa, mas está quase lá), o título de ontem vale pouco em relação a 2014, mas traz ao Brasil a confiança necessária para se trabalhar 1 ano inteirinho para buscar o Hexa e mostrar ao mundo, que o país-do-futebol pode (por quê não?) sonhar com mais um caneco. Tudo isso escrito, por dever e obrigação profissional, lembro que temos enormes problemas para resolvermos nesse país e o futebol não é nem sombra deles em questão de importância, assim, termino aqui minhas divagações sobre Seleção Brasileira, Espanha, Copa das Confederações e futebol, mas nunca deixarei de estar atento ao que podemos fazer e ser como nação. Abraço a todos e obrigado pela leitura!