Qual o tamanho de uma punição?

Por Mauricio Bonato

Qual o tamanho de uma punição? Um torcedor, ao que tudo indica, de forma e maneira premeditada lançou um sinalizador (não interessa onde comprou, se a polícia deixou que ele entrasse no estádio com esse artefato letal, isso pra mim é o que menos importa, mesmo porque, não é porque existem as armas, que eu compre uma e saia atirando em todo mundo achando que não vai causar dano nenhum ao outro ser humano) na torcida adversária depois de um gol do time dele (olhem a barbaridade, atirou para comemorar a marcação de um gol), esse torcedor atirou o artefato em direção da torcida adversária e pelas últimas imagens divulgadas, saiu correndo para o lado oposto, coisa que caracteriza a meu ver, a premeditação e o dolo, mas claro que, de certa maneira, ninguém acha que esse ato vai causar a morte de ninguém, ou pelo menos, ninguém se importa com isso, “vamos atirar o rojão, ou sinalizador, só pra causar um agito, fazer um barulho”, esse deve ser o pensamento e eu aqui, não quero imaginar, de forma ingênua, que não se pensou na possibilidade de atingir seriamente uma outra pessoa com esse ato, serei ingênuo mais uma vez na minha vida.

Pois bem, o torcedor não foi preso, ele deve pegar pena máxima pelas leis da Bolívia, se for pena de morte, tem que cumprir integralmente, mesmo porque, a vida do torcedor de 14 anos, que pode muito bem ter ido ao estádio para ver o time dele enfrentar o grande Campeão do Mundo, porque, de repente, se não fosse esse o atrativo, ele poderia nem ter interesse no jogo, esse torcedor de 14 anos, um adolescente que tinha a vida inteirinha pela frente, essa vida não voltará mais. O técnico, um diretor e alguns atletas se manifestaram publicamente com pesar ao ocorrido, na minha visão, disseram coisas impensadas também, não concordo com a comparação de um título mundial a uma vida, mas pelo menos, no momento da dor e no calor da emoção, se manifestaram lamentando e tenho certeza que reprovam qualquer ato leviano como o ocorrido, o problema é que agora, após a punição imposta (o time jogando em casa com portões fechados e fora sem torcida até o fim da fase de grupos) o departamento jurídico e o clube, a instituição, não aceitam tal punição que, ao meu ver, pode ter sido até branda, talvez a exclusão fosse mais justa, porque só assim, com a exclusão do clube atual campeão da competição mais importante do continente, só assim, o mau-torcedor, o marginal que se esconde atrás de uma torcida-organizada, esse cara, vá ser denunciado, o torcedor do bem, esse, sendo penalizado, vai se revoltar e vai perder o medo do marginal que torce pro mesmo time dele, mesmo porque, o marginal, não deve estar muito preocupado em ter causado mais uma morte e o que me deixa indignado, é a postura do clube, seu presidente (ex-delegado), diretoria, jornalistas-torcedores e ex-jogador que é torcedor e milita no jornalismo sem critério nenhum (nem sabe falar direito), esses sim, ao invés de buscar a solução do caso e causar uma revolução no relacionamento obscuro entre clubes, imprensa e torcida-organizada, esses caras, que deveriam dar o exemplo, eles querem que as coisas continuem como estão e acobertam essas organizadas.

O exemplo vale pra todos os clubes, na Inglaterra, medidas foram tomadas, o futebol mudou, se civilizou e o mal causado pelos “hooligans” não acabou de vez, mas ficou estacionado em níveis “aceitáveis”, o que se deve fazer nesse momento, é a punição mais pesada possível, repito, pra mim a exclusão, a fim de buscar uma mudança radical nesse panorama em que vivemos na América do Sul e no Brasil em especial. Chega de torcida que manda em time e clube, chega de dirigentes que se ajoelham a essas torcidas, chega de estragar o futebol.

Lembro que a medida da Conmebol é cautelar e o time em questão, já resolveu que vai recorrer da decisão e se diz inocente no caso, esse mesmo time e clube, esses mesmos dirigentes que se vangloriam da torcida que tem quando o momento é de festa, quando há as “invasões” tão decantas, agora, seria hora, desses mesmos dirigentes, tomarem uma postura de homens de verdade e acabar com esse problema chamado torcida-organizada, mas parece que isso está longe de ocorrer. A torcida-organizada em questão, que se manifesta sempre para cobrar time e dirigentes quando as coisas não andam bem em campo, que se manifeste e tome uma postura decente diante do caso, que assuma a responsabilidade dos atos praticados por seus associados e que tenha uma postura digna, mas obviamente, isso nunca irá acontecer, mesmo porque, o propósito dessa e das outras torcidas não é o bem comum e sim a relação com o crime organizado, com contravenções e sentimentos deploráveis. Se a Conmebol mantiver ou ampliar a punição, terá dado o maior passo de sua história para se tornar uma entidade de respeito no cenário mundial, se voltar atrás, perderá o pouco respeito que estava conquistando com a medida cautelar inicial e que não se esqueça de resolver disciplinarmente o ocorrido na final da Copa Sul-Americana no Morumbi, ano passado, na decisão entre São Paulo (BRA) x Tigre (ARG), que aproveite o momento, para fazer uma faxina de verdade e com creolina, no futebol sul-americano.

Acabo de ver nos portais que as torcidas organizadas do time em questão, no caso do garoto de 14 anos morto na Bolívia, especialmente essas torcidas, irão se manifestar para apoiar o time de fora do estádio seja onde o time jogar, o que me deixa curioso é porque essas mesmas torcidas não procuram banir os maus-elementos que as povoam com a mesma indignação e rapidez com que se articulam para protestar contra a punição, isso é curioso demais e no mínimo imoral…